segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Carta à militância cultural


A Cultura em Guarulhos

Desde nossos primeiros passos no panorama cultural e político na cidade de Guarulhos estamos suscitando reações, defesas viscerais e apaixonadas, levantes contra a inércia e as dificuldades que o nosso Estado (governo) lento e burocrático tem para conviver com a obrigatória e incontornável quebra de paradigmas que são inerentes à implantação de projetos, programas e ações relevantes para o desenvolvimento cultural de posses, associações, cidadãos e cidadãs guarulhenses e coirmãos do Alto Tiete e/ou grande São Paulo, sem desconsiderar a cidade de São Paulo que interage de varias formas com as territoriedades supracitadas, ate, reverberando suas ações em seus vários segmentos.
Desde esses primeiros passos, estes embates, internos e externos, adquiriram contornos de construção e desconstrução, de colaboração e de rompimento, porem em todos os casos tiramos ensinamentos e aprendizados que nos capacitaram. De um lado paladinos que deflagraram suas bandeiras para defender a filosofia e o cerne conceitual da construção coletiva e do fazer “juntos”, não estão conseguindo desalforriar à imensa diversidade cultural guarulhense. Esse imenso desejo da Cultura Hip Hop de se fazer reconhecida e respeitada, considerada como matéria prima essencial à construção de uma identidade urbana, dinâmica, plural e capaz de representar o que imaginamos que somos como nação e povo, como a agua que se infiltra por todos os poros e brechas que encontra diante de si e tende a ocupar todos os espaços disponíveis e os indisponíveis também.
Isso assusta o Estado (burgueses e políticos) que, num descuido permitiram que o um Governo com viés progressista e compromissado em dar, aos que nunca tiveram pelo menos uma migalha do que teriam direito, derramassem essa água transformadora da Cultura Hip Hop na esperança dos fazedores de cultura desta cidade. E o Estado e todo o seu aparato consolidado de medidas criadas para impedir que vicejem inciativas que ameacem o seu controle reagem rapidamente, criando obstáculos diversos para que essa água da Cultura Hip Hop se espalhe e deixe proliferar a vitalidade cultural de nossa gente, maloqueira, intelectual e trabalhadora. Muitos foram os capítulos e eventos desse grande embate.
Junto com o Estado reagiram também os atores e grupos sociais atuantes no panorama cultural, repito interno e externo, habituados ao reconhecimento e acesso privilegiado que este propiciava aos recursos alocados pelo Estado à cultura. Por trás das discussões duas concepções da cultura e do fazer cultural buscavam se impor como diretrizes das ações e da formulação das políticas públicas para a cultura. Uma que, em síntese considera todo e qualquer cidadão como ente inteiro e capaz de gerar cultura, pelos seus ritos, comemorações, festejos, jeito de vestir e de comer. Capaz de eleger, por conta própria seus valores artísticos e culturais.
Outra que preconiza a separação entre quem faz arte e cultura e uma grande massa que, sem a “qualificação” exigida fica condenada a ser consumidora da arte e cultura produzida, comercializada e perversamente imposta subliminarmente através de um controle hegemônico e centralizador dos meios e veículos de difusão existentes.
Os problemas práticos decorrentes dessa guerra conceitual começaram desde os primeiros passos de nossas Culturas, com um recorte especial para a Cultura Hip Hop, tema transversal deste desabafo sistematizado – questionamentos, condenação de entidades por dificuldades em lidar com os tramites burocráticos, dificuldade do Estado em admitir os erros de seus agentes e a falta de estrutura administrativa, cancelamento ou atraso ou feitura errônea de editais (Leia-se Festival da Cultura Hip Hop, Hip Hop nas férias e etc.) e outros percalços – mas no “Governo” havia uma certa prevalência de grupos que não defendiam com empenho a luta.
Durante a campanha para as eleições de vereança e prefeitura já vivíamos um combate fratricida, até mesmo dentro da Cultura Hip Hop, e suas vertentes, entre os homens e mulheres vinculados a partidos políticos da base de sustentação do Governo e da oposição ao mesmo e que defendiam os erros indefensáveis da gestão e seus subordinados, em nome de uma continuidade, ou não, de um Governo antidemocrático, cego e arrogante. Qualquer cidadão e cidadã que ousasse apontar e questionar as deficiências e falhas gritantes na execução ou proposição de projetos era duramente atacado pelos brigadistas de plantão e os questionamentos ficavam por ali mesmo esvaziados e sem eco.
Apesar dos compromissos assumidos explicitamente durante a campanha de desenvolver, consolidar e/ou ampliar os espaços de desenvolvimento das Culturas e da Cultura Hip Hop, o que vimos desde a nomeação do Prefeito Almeida e do Secretariado escolhido pelo mesmo, via um conjunto de demissões, exonerações e perseguições politicas, um conjunto de ações que iam à direção contrária do compromisso assumido. Ataques claros e revisionistas aos projetos, propostas e encaminhamentos coletivos da base de articulação cultural e não politica partidária vale ressaltar.
Passado um longo processo de discussão pública, abandono total das iniciativas de Cultura e questionamento público do compartilhamento de conteúdos pelas redes sociais da militância positiva e negativa, defesas intransigentes contra e a favor da inercia do Estado em relação ao avanço e respeito à Cultura hip Hop Guarulhense, tentativa deliberada de desqualificar e enfraquecer a base como instância máxima e legítima de representação das Culturas, temática sobre a qual nunca foram devidamente esclarecidas quais são as diretrizes e prioridades, mesmo que nós subíssemos que carnaval, teatro e shows de mainstrens são prioridades de orientação para ações futuras.
Pontos de Cultura que foram prejudicados neste período por convênios paralisados e cancelados, prêmios etc. Junto com isso veio o congelamento de recursos para o projetos e ações em uma ação deliberada para transformá-los num grande problema, tendo em vista o entendimento que ou os atores da sociedade civil ou a gestão publica não tinham competência para cumprir as normas impostas pela burocracia que continua assentada no seu trono impassível e inquestionável.
Reagimos contra essa falta de respeito em reuniões de articulação e buscamos aliados para acelerar a tramitação da Casa da Cultura Hip Hop de Guarulhos e do Alto Tiete, que acabou gerando um núcleo de resistência que assumiu o desafio de impedir a aniquilação sócio-política e cultural. Nesse processo, novos atores que já haviam integrado a base em outros tempos passaram a integrar os debates e as tentativas de articulação.
Com a chegada do Edmilson Souza vimos uma luz no fim do túnel, mas o rumo da prosa não se alterou muito! Nesse período, nada do que estava efetivamente paralisado ou advogando contra a Cultura Hip Hop não foi resolvido. Nesse momento, a decisão de qual postura a militância deveria assumir começou a acentuar os devidos encaminhamentos. Apesar de termos majoritariamente decidido que era melhor estarmos representados dentro do processo de construção da Casa da Cultura Hip Hop de Guarulhos e do Alto Tiete e aceitamos trabalhar voluntariamente no processo, o grupo que não concordou com essa escolha continuou a se mover por conta própria e a articular a luta política pela Cultura Hip Hop, pela liberação dos recursos para os Pontos de Cultura, ampliação do FunCultura e etc, segundo suas próprias ideias e conforme a dinâmica que achavam mais adequada. Todo mundo defendendo as “Culturas”, cada qual do seu jeito…
Nesse meio tempo, enquanto nada disso era feito concretamente e ninguém respondia efetivamente por isso, as nossas divisões internas se acentuaram, os debates começaram a ficar mais ásperos e as insinuações e grosserias quase polidas proliferaram, instalando um clima de desconfiança e de dificuldade em tirar uma linha de ação coesa e capaz de aplainar as diferenças.
Feito este desabafo, como que pra refrescar a minha própria memória, gostaria de contribuir para a reflexão do momento que vivemos.
Em primeiro lugar, retomando o início do meu relato, penso que a paixão não deve servir de escudo de defesa para atitudes aparentemente viscerais e sectárias. Esse comportamento aproxima perigosamente a atuação política da militância cultural.
Essa luta é mesmo muito dura e coloca à prova nossa paciência e a nossa capacidade de discernir o que podemos efetivamente fazer para que os nossos objetivos e desejos se tornem realidade. Acho que é fundamental fazermos uma avaliação das nossas forças reais e de como ampliar e fortalecer a nossa capacidade de negociação com o Estado (Prefeitura de Guarulhos) e com suas instâncias governamentais, parlamentares e judiciárias.
Sim companheiros, negociação! Por mais que façamos tratados filosóficos e conceituais para orientar nossas ações e tomadas de decisão, o sucesso na implantação da Casa da Cultura Hip Hop de Guarulhos e do Alto Tiete dessa envergadura, que traz no seu bojo transformações tão profundas na Cultura Hip Hop com viés político e nas políticas para as outras vertentes culturais, pois a Cultura Hip Hop dialoga tranquilamente com as outras vertentes culturais, mesmo sabendo que em muitas vezes esta não é uma via de mão dupla, depende de uma negociação adequada e estrategicamente bem embasada entre as culturas, a sociedade e o Estado.
E para fazer o Estado conceder aos que buscam um lugar melhor na sociedade o direito desse reconhecimento precisamos ter uma conduta mais ética e menos viciada pelo hábito de um jogo político que acaba favorecendo aos mais “espertos”, os mais articulados e os mais aptos a se contentar com algumas pequenas conquistas em troca de afagos ao ego e algumas posições no camarote do reino!
Por: Bobcontroversista

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