Muitas vezes ficamos, noite adentro, a conversar com os amigos. Conversa fiada, que nos faz muito bem. E falamos de tudo. De política, de futebol, deste mundo perverso em que vivemos, dos nossos irmãos das favelas, dos meninos de rua a correrem pela madrugada, sem uma esperança sequer. Não raro falamos do futuro, do inesperado, que tudo domina, e muitas vezes contra nós. Até da figura sinistra de Bush nos ocupamos. E aí, nacionalistas, todos se levantam a falar da Amazônia tão ameaçada e da política externa de Lula, que só podemos aplaudir. No último encontro, observei que começava a me repetir (pessimista), a comentar sobre a fragilidade das coisas e das nossas pobres vidas. E, sem cair no niilismo, passando por Schopenhauer e pela leitura de ‘L’être et lê Néant’ (‘O Ser e o Nada’), que nunca esqueci, aceitava a pouca importância da vida e de tudo o mais.
Depois, ao voltar para casa, fiquei a analisar esse meu ponto de vista que tanto repetia — para alguns, sem maior significação. E agradou-me perceber que havia uma certa razão para essa insistência, talvez desnecessária, apesar de representar uma ideia muito minha, a defender a conveniência de melhorar o ser humano, de fazê-lo mais modesto, o “que a luta política, inclusive, reclama. Lembro os velhos tempos… Como o partido era para muitos coisa sagrada, uma religião. Hoje continuo a admirá-los, convicto, como eles, de que a proposta de Marx e Engels é legítima e apaixonante — mudar a sociedade, fazê-la boa e justa para todos. Só o ser humano é que continuaria desprotegido diante do d estino implacável. E, procurando um exemplo que comprovasse o meu pensamento, era Kruschev que me aparecia. Ele, que, ambicioso, voltado para o poder, elaborou o lamentável relatório contra Stálin. Satisfazia-me ver que até na luta política a modéstia seria eficaz, evitando erros como esse. E, mais ainda, na sociedade sem classes adotada, aceitando-se as limitações que o novo regime — igual para todos — vai estabelecer. Sentia que essa preocupação com a modéstia e a importância que poderia assumir em qualquer movimento de caráter político nunca tinham sido devidamente valorizadas. O que parece justificar o empenho com que a elas costumo voltar, certo de que, mais modesto, o homem será um dia mais feliz”.
Depois, ao voltar para casa, fiquei a analisar esse meu ponto de vista que tanto repetia — para alguns, sem maior significação. E agradou-me perceber que havia uma certa razão para essa insistência, talvez desnecessária, apesar de representar uma ideia muito minha, a defender a conveniência de melhorar o ser humano, de fazê-lo mais modesto, o “que a luta política, inclusive, reclama. Lembro os velhos tempos… Como o partido era para muitos coisa sagrada, uma religião. Hoje continuo a admirá-los, convicto, como eles, de que a proposta de Marx e Engels é legítima e apaixonante — mudar a sociedade, fazê-la boa e justa para todos. Só o ser humano é que continuaria desprotegido diante do d estino implacável. E, procurando um exemplo que comprovasse o meu pensamento, era Kruschev que me aparecia. Ele, que, ambicioso, voltado para o poder, elaborou o lamentável relatório contra Stálin. Satisfazia-me ver que até na luta política a modéstia seria eficaz, evitando erros como esse. E, mais ainda, na sociedade sem classes adotada, aceitando-se as limitações que o novo regime — igual para todos — vai estabelecer. Sentia que essa preocupação com a modéstia e a importância que poderia assumir em qualquer movimento de caráter político nunca tinham sido devidamente valorizadas. O que parece justificar o empenho com que a elas costumo voltar, certo de que, mais modesto, o homem será um dia mais feliz”.
Texto de Oscar Niemeyer, publicado em 06.06.2004, no jornal Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.